Não foi apenas mais um episódio de Glee.
“Shooting Star” foi épico dentro de sua proposta. Foi preciso, precioso e perfeito dentro do que Glee normalmente se enfia, de dar à sua obra um caráter crítico-social e demonstrar uma profundidade que muitas vezes é superficial em sua sumária história. “Shooting Star” é um episódio atípico para a série, e, talvez, para o contexto da televisão americana atualmente.
O problema do episódio não esteve no episódio, se é que deu para entender. O problema do episódio é para o que ocorre no entorno. Das críticas que o roteiro ousado e polêmico de titia Ryan (mais precisamente de Matthew Hodgson) enfrentaria por abordar um tema tão delicado quanto este.
E o problema é que tem gente que não sabe compreender o fator dramático e que se faz à televisão. As mesmas críticas que este episódio hoje sofre, foram sofridas pelo “With Tired Eyes, Tired Minds, Tired Souls, We Slept” (3x16) de One Tree Hill, quando a série assumiu o seu enfoque de criticar e reproduzir a realidade, claro, com seu enredo central bastante diferente e com outro tipo de enfoque.
O tiroteio aqui apresentado não foi o enfoque central, e sim as causas que levaram ao fatídico fato. Enquanto em One Tree Hill o atirador era vítima de bullying, em Glee a história foi sobre insegurança e como esse “evento” afeta muito mais do que as pessoas comumente acham que afetam.
E é aqui onde Glee mais acerta. Este episódio, por ser posto de uma forma em que colocasse os personagens principais em situação de provável risco mexeu com os sentimentos do telespectador. Conseguiu movê-lo para dentro da trama e, acima de tudo, conseguiu comover com atuações lindíssimas e extremamente bem pontuadas.
A começar por Heather Morris. Quem se lembra daquela ex-dançarina da Beyoncé, convidada por Ryan Murphy para ensinar o Chris Colfer e o resto do elenco a dançar “Single Ladies” lá no começo da primeira temporada nunca imaginaria o seu desenvolvimento até aqui, não só da personagem Brittany, mas também da atriz. Brittany presa no banheiro foi uma das cenas mais emocionantes e com maior carga dramática do episódio inteiro, e muito disso tem mérito da moça HeMo.
Outro que esbanja talento nesta temporada é Chord Overstreet. Extremamente exigido nas cenas cômicas e com um talento incrível nas dramáticas especificamente deste episódio. O desespero de seu personagem para ir atrás da Brittany que estava fora de seu alcance foi tão comovente quanto.
Aliás, comoção é a palavra que mais se aplica ao enredo de Hodgson. Outra dupla que funcionou bem foi Marley e sua mãe, e o fato de não terem nenhuma notícia da outra e terem de ficar escondidas sem saber das condições da outra. A relação mãe/filha que pouco tinha se estabelecido nesta temporada (apenas lá em seu início) foi extremamente bem aplicada de uma única vez neste episódio.
E aí entra outros fatores que fazem deste episódio um marco em Glee. Tudo parecia absolutamente normal, mais um dia de aula comum e mais uma tarefa estúpida na sala de música do Glee Club. Mas não era.
Agora é onde entra Becky e sua insegurança. O seu medo de encarar o mundo, principalmente pelo que ela é e o que ela representa. A personagem com síndrome de Down se põe ao mesmo nível dos outros alunos, apresenta os mesmos medos, mas sua reação é diferente.
A questão do episódio não era apenas mostrar “quem é o atirador?”, uma pergunta tão vazia para o que representa o episódio, mas sim a complexidade do que se passa na mente de um adolescente com medo de encarar o mundo. Uma adolescente que acha que com um revólver pode resolver todos os seus problemas.
Diferentemente da questão do suicídio visto com Karofsky há algum tempo, este episódio é um primor. Sue assume os disparos para defender Becky de maiores problemas. Põe seu cargo e suas honras para proteger uma aluna. E ainda tem gente que acha que Sue Sylvester não tem um coração. Depois do ocorrido, ficará difícil para os alunos retomarem a rotina e verem seus dias voltarem ao normal em McKinley High, e apenas o tempo fará a ferida do medo desaparecer ou diminuir.
No mais, o episódio também é certeiro com Ryder descobrindo que algum de seus amiguxos de coral é o responsável pela moça que mandou mensagens para ele (e todas as apostas ficam em Unique, certo?), além de uma performance que encerra bem o episódio.
Espero que outras séries se proponham a fazer algo ousado e desafiador como Glee, de conseguir criticar a sociedade e fazer episódios polêmicos e com seu fundo de verdade. Enquanto isto, espero que tenhamos um episódio um pouco menos dramático pela frente, meu coração não aguentaria dois a este nível seguidos.
P.S.: Sequência do vídeo gravado por Artie é lindíssima, como um possível "adeus". É de arrepiar.
Músicas do episódio:
- "More Than Words", de Extreme, interpretada por Sam Evans (Chord Overstreet) e Brittany S. Pearce (Heather Morris);
- "Your Song", de Elton John, interpretada por Ryder Lynn (Blake Jenner);
- "Say", de John Mayer, interpretada pelo coral do New Directions.
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